Porto de Galinhas: Ao sabor das marés

09/11/2018

Há meros vinte anos, Porto de Galinhas era apenas uma praia de nome exótico. Os recifenses veraneavam em Gaibu, na costa do Cabo de Santo Agostinho, ou na Praia do Toquinho, em Serrambi. O único resort da região, por sinal, ficava em Serrambi, no condomínio da Enseadinha (e se chamava Intermares). Poucos turistas saíam do Recife para ir a Porto: o passeio mais desejado era à ilhota da Coroa do Avião, em Itamaracá.

Os primeiros habitués eram fregueses da comida nouvelle-pernambucana do Beijupirá e se hospedavam na pousada Tabajuba -- dois endereços que ajudaram a criar um estilo Porto de Galinhas, colorido e alto astral.

Aos poucos, com a vinda de grandes resorts para a ponta norte da orla -- Muro Alto -- e a construção de grandes hotéis ao longo da praia do Cupe, Porto de Galinhas foi posto no mapa. Cresceu até desbancar Recife como destino número 1 de Pernambuco.

Nos últimos 10 anos, a cidade ficou mais organizada. Um anel viário e calçadas para pedestres tiraram o trânsito do miolinho do centro. A rodovia da orla foi em grande parte duplicada e ganhou uma ciclovia. Boogies foram proibidos na areia da praia (com exceção do último trecho entre Maracaípe e o Pontal de Maracaípe). O acesso às piscinas naturais foi disciplinado. As galinhas e as placas coloridas de antigamente ganharam um revival.

Porto de Galinhas: onde comer

A rua de pedestres que dá acesso à vila (e que em seu primeiro trecho se chama Esperança) concentra os restaurantes mais em conta, com buffets, quilos, tapiocarias e também restaurantes com pratos para dividir. Nas transversais (rua Beijupirá e rua das Piscinas Naturais, também conhecida como av. Beira-Mar) ficam os restaurantes mais arrumadinhos.

O clássico de Porto de Galinhas é o Beijupirá. Abriu em 1991, quando Porto ainda era um destino exótico. O restaurante também era, com sua decoração bem-humorada e pratos nouvelle-nordestinos que combinavam peixes e frutos do mar com frutas e ervas regionais. Hoje com casas funcionando em Olinda, Noronha, Carneiros, Paiva e Alagoas, não é preciso ir a Porto de Galinhas para experimentar a cozinha do Beijupirá -- mas o lugar onde nasceu continua especial.

Os outros restaurantes com pretensão gastronômica no centro são o Munganga Bistrô, abre das 9h às 16h, com serviço de praia, e das 19h às 23h Domingos abre das 11h às 23h e Gratin: abre das 17h às 23h.

À beira-mar, outra verdadeira instituição da vila é o Peixe na Telha, abre das 10h às 16h e das 18h30 às 22h, que também oferece serviço de praia (com consumo mínimo).

Escondido numa travessa da rua de entrada, no lado esquerdo, o La Trattoria, abre para jantar costuma ter filas de espera. Prepara massas com molhos generosos. O ponto da massa é ao gosto nordestino, mais cozido do que o necessário.

Dois restaurantes (dos mesmos donos) dividem uma galeria na rua Beijupirá: o japonês Temakeria do Porto e a Pizzaria Paulista; é possível sentar numa mesa e pedir pratos dos dois restaurantes, abre todas as noites a partir das 18h.

Querendo uma refeição mais levinha pense nas crepes e saladas do La Crêperie, abre a partir das 13h30 ou nas macaxeiras recheadas do Barcaxeira, abre das 12h à 0h. O charmoso Café da Moeda, abre desde as 9h é um bom lugar para uma cartola ou uma tapioca mais gourmet.

Vai a Maracaípe? Na Vila de Todos os Santos, dois restaurantes servem peixe, frutos do mar e comida de boteco: o João, que fica na estradinha beira-mar e tem uma piscininha para os clientes, e o Porto Barracuda, duas casinhas para dentro da vila.

Caso goste de restaurantes com ambiente mais urbano, suba as escadas do Sofrida mas não me Kahlo, o restaurante-lounge do Espaço Gatos de Rua.

Porto de Galinhas: o que fazer

O segredo de conhecer Porto de Galinhas é não se encastelar no resort, nem fazer da sua estadia uma maratona de viagens a praias distantes, reduzindo a sua experiência em Porto a um praia-tour de bugue.

Na maré baixa, os corais da praia da vila vêm à tona e represam piscinas de água cristalina, num degradê que vai do incolor ao azul-bebé, passando por várias tonalidades de verde-água. Acrescente jangadas de velas coloridas, tire uma foto aérea ou dê no meio aos peixinhos nas piscinas, e tem os cartões-postais clássicos de Porto de Galinhas.

O que contínua fantástico no passeio às piscinas é poder deslizar de jangada sobre o mar transparente da Praia da Vila. Da beira-mar até a região das piscinas, a água do mar vai ficando cada vez mais cristalina, sobretudo no contraste com o coral escuro. O passeio não termina nos corais: depois do passeio pelas piscinas mais cobiçadas, o jangadeiro leva a uma outra área rasa em alto mar, perfeitamente desimpedida, onde dá para mergulhar naquele mar caribenho. Haverá bem menos peixinhos do que na piscina 'principal', mas o banho é infinitamente mais apetecivel.

As jangadas saem do trecho da praia em frente à Praça das Piscinas Naturais, no centro. Você paga pelo passeio no guichê da Associação dos Jangadeiros e ganha uma ficha. Desce à praia, vai ter com o coordenador dos passeios, ele encaminha-o a uma jangada onde caiba o seu grupo; entrega a ficha ao jangadeiro. Cada jangada leva até 6 passageiros.

O horário dos passeios muda diariamente, de acordo com o movimento das marés (a cada dia, a maré começa a vazar/encher entre 30 e 45 minutos mais tarde do que na véspera). As jangadas começam a sair 2h antes do nível mínimo da maré. O ideal é sair neste horário mesmo, para pegar as piscinas menos cheias. Caso queira entrar na piscina dos peixinhos, vai precisar chegar ao coral cedo; faltando meia hora para o nível mínimo da maré, a piscina é desocupada (pode ser vista e fotografada, mas não dá para entrar).

Da beira-mar às piscinas, a jangada leva uns 15 minutos. A permanência no coral é de cerca de meia hora. A segunda parada para banho também leva outra meia hora. No total, o passeio dura 1h30.

O passeio é mais bonito durante as luas cheia e nova, quando a maré baixa pela manhã e seca mais, expondo mais os corais e tornando a água mais cristalina. O passeio não vale a pena em dias nublados ou chuvosos; sem incidência direta da luz solar, as piscinas ficam opacas.

Hotéis e pousadas de Porto de Galinhas costumam ter tábua das marés à disposição dos hóspedes. Também dá para consultar a tábua de marés do Ministério da Marinha online.

As praias

De Muro Alto até a Ponta de Serrambi, Porto de Galinhas tem 12 km de praias. Os trechos bons para banho, porém, são poucos. Veja onde vale a pena fazer praia, de norte a sul:

Muro Alto

Contida entre um pequeno barranco (o tal muro alto) e um longo arrecife, esta praia é praticamente um piscina gigantesca. (Nas marés mais baixas, porém, pode secar demais durante quatro horas a fio.) Serve de praia para o hotel Nannai e alguns apartamentos que estão à beira-mar; e também para o Summerville e outros apartamentos, que estão a 5 e 10 minutos a pé. Os hóspedes desses hotéis acedem a praia pela ponta sul, que pode ficar sem areia na maré alta, quando o mar chega ao muro. Quem não está hospedado nesses hotéis chega à praia pela ponta norte, onde a faixa de areia é mais larga e não desaparece na maré alta.

Pontal do Cupe

Não confunda com a Praia do Cupe, que é o praia enorme que se estende por 5 km desde a vila até ali. Nananina. O Pontal do Cupe é apenas a ponta norte da praia, e merece ter um nome só seu por contar com a proteção de recifes que tornam o banho seguro em qualquer maré. Serve de praia para os hóspedes do Pontal de Ocaporã, da Pousada Tabapitanga e do Tabaobi Smart Hotel, que ficam a 5 minutinhos a pé. É uma praia deliciosa e pouco conhecida. Há barracas simples rente à areia, que alugam simpáticas cadeirinhas de nylon e alumínio. Há três verões ganhou um bar mais estruturado, o Bar da Praia, que tem serviço de mesas sobre o barranco e na areia, mas infelizmente usa aquelas mesas e cadeiras amarelas de plástico fornecidas pelas cervejeiras.

Praia da Vila

A praia do centro não serve só para ir à piscina natural, não: os mesmos corais que formam as piscinas também fazem desta uma das praias mais deliciosas do Brasil. Mas não se prenda ao trecho mais central, bem em frente às piscinas, onde estão enfileirados bares e restaurantes: ali a praia fica muito cheia, e a maré alta come bastante a faixa de areia.

O trecho mais interessante é à esquerda da Praça das Piscinas Naturais, fora da área das jangadas. Ali a praia é fantástica em qualquer maré, e as barracas, ainda que simples, estão mais higiênicas, desde que suas cozinhas foram tiradas da areia (funcionam todas numa pracinha auxiliar acima da praia). O trecho à direita da praia central também é apreciado -- recomendável para quem quer fazer praia sem tanta estrutura, e poder caminhar por um trecho de praia ladeado pelo coqueiral (que se estende até Maracaípe).

Maracaípe

3 km ao sul da vila, Maracaípe tem personalidade própria: é a praia dos surfistas e dos espíritos independentes. Os turistas apenas cruzam a beira-mar de boogie, a caminho do Pontal de Maracaípe, onde vão fazer o passeio do manguezal para ver cavalos-marinhos. O mar não é nada amigável para quem não surfa; mas para quem gosta da atmosfera do surf, vale a pena fazer o passeio. Há bares rústicos na areia no início da praia e, mais adiante, a Vila de Todos os Santos, com bons restaurantes para almoçar.

Enseadinha de Serrambi

A praia mais perfeita de Porto de Galinhas fica em Serrambi: a Enseadinha tem um desenho delicado, água azul-clarinha e excelentes condições de banho em qualquer maré (na maré baixa, as piscinas naturais se formam rente à beira). É a praia quase particular de quem está hospedado no Serrambi Resort (e das casas vizinhas), mas o acesso é livre. Não há, contudo, bares de praia; só mesmo ambulantes. Para chegar, é preciso ir pela estrada de Porto de Galinhas a Serrambi e, ao chegar ao centro, entrar no condomínio Enseadinha, à esquerda (tem uma guarita, mas dá para passar de carro sem problema). Da vila de Porto à Enseadinha são 14 km.