De surpresa em surpresa nas Caldas da Rainha

31/05/2021

Chegámos às Caldas da Rainha num sábado de manhã. Não levávamos planos rígidos. Tínhamos o fim de semana livre e não queríamos passá-lo a correr atrás de atrações e roteiros turísticos. Anotámos apenas quatro locais que desejávamos visitar: a Praça da Fruta, o Parque D. Carlos I, o Museu da Cerâmica e a Loja da Fábrica Bordallo Pinheiro. O resto queríamos descobri-lo sozinhos, deixando que a cidade nos surpreendesse.

 

Chegámos à Praça da República já aí decorria a Praça da Fruta, um mercado diário ao ar livre, especialmente forte nas manhãs de sábado. Seduzidos pelas bancas coloridas e especialmente pela fruta e pelos produtos hortículas da zona Oeste, regressaríamos lá no domingo para nos abastecermos.

Dada a dificuldade em estacionar, depois de visitarmos a Praça da Fruta, fomos almoçar num restaurante perto das Caldas da Rainha, chamado Taberna do Manelvina. Uma vez que não existe menu, não sabíamos o que esperar e estávamos longe de imaginar que seria inesquecível.

Quando íamos a sair da cidade, descobrimos, por acaso, a Mata da Rainha D. Leonor. Depois de almoço, foi aí que voltámos. Andámos entre árvores estranhas, todas despidas e inclinadas para o mesmo lado, um bom cenário para um filme de suspense. Sem pressas, fomos fotografando pequenos milagres da natureza, tão simples como gotículas-diamante sobre folhas, urtigas a brilhar ao sol, ramos compridos como raízes de árvores que foram viradas ao contrário. Pelo meio, ainda descobrimos uma instalação artística esquisitíssma, uma mistura de ferro com azulejos, da autoria do artista Ferreira da Silva.

Continuando a caminhar, fomos ter aleatoriamente à Rua Raphael Bordallo Pinheiro que nos conduziu aos fantasmagóricos Pavilhões do Parque. Nunca os tínhamos visto, nem em fotos, e foram uma grande surpresa, seja pela arquitetura invulgar, seja pelo inesperado estado de abandono.

Daí fomos visitar o Museu da Cerâmica. Apesar de o termos incluído na nossa lista de lugares a visitar, não fazíamos ideia de que ficava sediado num invulgar palacete de finais do séc. XIX nem esperávamos encontrar peças de cerâmica nacionais tão criativas, muitas das quais da autoria de Rafael Bordallo Pinheiro. Quem se lembraria, por exemplo, de criar rãs em louça?

Perto do Museu, fica a Loja da Fábrica Bordallo Pinheiro, onde é possível comprar peças da afamada marca de cerâmica a preços mais em conta. Entrámos para espreitar e depois continuámos a pé até ao Parque D. Carlos I, onde reencontrámos os centenários Pavilhões do Parque, mas não só. Quem diria que iríamos ver macacos em cerâmica a subir pelos ramos das árvores ou uma girafa a espreitar entre os arbustos ou peças de escultura espalhadas pelo jardim?

Da mesma forma, quem diria que iríamos encontrar, nas Caldas da Rainha, azulejos tão bonitos nas fachadas dos edifícios? Um caracol, uma couve e um lagarto nas paredes de outros? Ou peças icónicas de Bordallo Pinheiro espalhadas pelas ruas?

No dia seguinte regressámos, pois, à Praça da Fruta para fazer compras, levando um carrinho de mão emprestado pela 19 Tile Boutique House, a casa onde ficámos alojados na zona histórica, a uns metros de distância.

Deambulámos depois pelas artérias do centro, descobrindo ruas estreitas e recantos, e regressámos, por fim, ao Parque D. Carlos I para ver o Museu José Malhoa, onde senti orgulho deste e de outros artistas nacionais. É um museu que eu nem sequer sabia que existia e que só visitámos, porque oferecem 50% de desconto na compra do bilhete para o Museu da Cerâmica.

– Posso-vos fazer uma pergunta? Parecem tão felizes e contentes… A existência tem algum sentido? – atirou-nos uma senhora na rua, quando nos preparávamos para ir embora.

Passámos o fim de semana nas Caldas da Rainha e fomos surpreendidos pela cidade, onde encontrámos o inesperado e muita criatividade. Namorámos, descansámos, divertimo-nos, experienciámos o que não temos todos os dias e demo-nos ao luxo de viver o presente como queríamos. Não sei qual é o sentido da vida. Sei que, nesses dias, nos sentimos bem e felizes. E é isso que importa.

 Guia prático para visitar as Caldas da Rainha

O que (gostámos de) visitar

  • Praça da Fruta (todos os dias de manhã);
  • Mata da Rainha D. Leonor;
  • Parque D. Carlos I;
  • Pavilhões do Parque, projetados no século XIX para serem o novo Hospital D. Carlos I. Atualmente desativados, darão em breve lugar a um hotel de luxo;
  • Museu da Cerâmica e Museu José Malhoa (desconto de 50% na compra de um bilhete normal a usar no 2º museu – válido por dois dias. Aos domingos e feriados, a entrada nos museus é gratuita até às 14 horas, para todos os residentes em território nacional);
  • Loja da Fábrica Bordallo Pinheiro;
  • Artérias centrais, como a Rua de Camões e a Rua das Montras;
  • Rotunda da estação de comboios.

 Onde (gostámos de) dormir

19 Tile Boutique House | Um dos motivos por que gostámos tanto das Caldas da Rainha foi também esta casa centenária, situada mesmo no centro da cidade, a poucos passos da Praça da República (Praça da Fruta).

É uma casa que condiz com o que encontrámos do lado de fora, no que diz respeito à criatividade e ao inesperado. Todos os quartos são diferentes, cada um assinado por um ceramista caldense contemporâneo, em homenagem à tradição artística da cidade. Além disso, há peças surpreendentes por toda a casa: na luminosa receção, na acolhedora sala onde é servido o pequeno-almoço e até no pátio exterior onde, por vezes, passeiam pavões que escapam do Parque Carlos I.

Além de cinco quartos duplos e de duas suites familiares, a casa dispõe de dois apartamentos e de uma cozinha comum onde os hóspedes podem preparar as próprias refeições, quem sabe depois de se abastecerem na Praça da Fruta, usando um dos trolleys à disposição.

 Onde (gostámos de) comer

Taberna do Manelvina | Neste restaurante não há menu. A especialidade são grelhados de carnes bravas e de porco preto criado no campo, escolhendo-se os enchidos (farinheira, chouriço e morcela) e as carnes (entremeada, febras, costeletas, entre outras) de que mais se gosta. A acompanhar, há salada de tomate e oregãos além de batatas fritas caseiras.

No final, ofereceram-nos um mini-prego no pão, o melhor que alguma vez provámos, e o licor da casa, que ajudou à digestão.

Morada | Rua Principal, nº 21 – Cruzes – 2500-632 Salir de Matos

Contactos | 262 870 014 / 917 221 062 (convém chegar cedo ou reservar com antecedência)

Encerra aos domingos

Também nos recomendaram:

Nas Caldas da Rainha:

  • Recanto | Restaurante familiar de comida tipicamente portuguesa.
  • Casa Antero | Tasca gourmet com vinho a copo, óptimo para petiscos.
  • Maratona | Comida internacional, de fusão. A cafetaria serve boas tostas, hamburgers e sumos naturais, incluindo ainda opções vegetarianas.

Perto da cidade (a 10 minutos de carro):

  • Solar dos Amigos | Restaurante típico conhecido pela carne, polvo e bacalhau à lagareiro.
  • Jamon Jamon (Óbidos) | Comida portuguesa com um toque criativo

O que visitar perto das Caldas da Rainha

A 10 minutos

  • Óbidos
  • Lagoa de Óbidos
  • Foz do Arelho

A 20-25 minutos

  • São Martinho do Porto
  • Alcobaça
  • Peniche
  • Budha Eden
  • Dino Parque

A 45-60 minutos

  • Lisboa
  • Fátima
  • Tomar

Boas viagens à solta!