Sintra: Serra de Sintra

14/09/2020

Pode fazer sol, que a floresta abriga os viajantes. Pode estar sombrio, que as árvores protegem os andarilhos. Estes são caminhos que todos podem percorrer, e garantem um dia inteiro entre a história e a natureza de Sintra. Uma caminhada pelo trilho dos Castelos, do Palácio da Pena ao Castelo dos Mouros, na Serra de Sintra.

Sintra fica envolta na mata que escorrega dos montes para as quintas no sopé do Monte da Lua, como era conhecida antigamente esta serra. O mar é uma sombra azul-escura, lá longe. A Serra de Sintra e o seu litoral, que termina no Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa, possuem características únicas e uma extraordinária beleza, estando por isso protegidos pelo estatuto do Parque Natural de Sintra-Cascais. Para além disso, fazem parte da lista de Paisagens Culturais Património da Humanidade e, mais recentemente, o conjunto do Parque e Palácio da Pena foram considerados uma das Sete Maravilhas de Portugal – não há, portanto, quem não reconheça os encantos de Sintra.

Para uma primeira aproximação, nada como um dia pelos caminhos que unem o Palácio da Pena ao Castelo dos Mouros, daí à Igreja de Santa Maria e ao centro da vila, passando por algumas das suas quintas.

Começamos por subir de autocarro até à entrada superior do Palácio da Pena, construído no topo do Monte da Lua, lugar de antigos cultos astrais, coberto por uma vegetação autóctone frondosa que traz frescura mesmo nos meses de Verão. Se visitarmos o interior do Palácio – o que aconselhamos vivamente – os primeiros passos serão dados entre pátios, salas e terraços com vista sobre este verde intenso. Um pouco mais baixo avistamos as muralhas do Castelo dos Mouros, como uma coroa de pedra que sai da floresta. Depois deambularemos pelo Parque, extenso e sombrio, seguindo as ocasionais placas indicativas para descobrir todas as vistas sobre o Palácio, que se apresenta sempre diferente a cada ângulo novo; não perder a vista do Trono da Rainha, a preferida da rainha D. Maria. Os fetos gigantescos como guarda-sóis de praia são uma das jóias do Parque, e ficam já perto da porta inferior, a dos lagos, por onde se sai para a estrada.

Subindo um pouco chegamos ao Castelo dos Mouros. A vista da alcáçova é a de uma microscópica muralha da China, o rendilhado das ameias decorado por bandeiras antigas serpenteando até à Torre Real. A paisagem, de onde sobressaem enormes calhaus graníticos, redondos e pálidos, desdobra-se monte abaixo, transformando-se na planície verde que antecede o mar. Daqui sai um trilho bem indicado em direcção ao centro da vila, descendo por dentro da mata até à Igreja de Santa Maria, e daí por estreitas ruelas medievais, feitas de muros de quintas por onde escorrem pétalas de glicínias, até ao Palácio Nacional, imediatamente reconhecível pelas suas chaminés em forma de funil invertido.

Esta era a zona saloia, fornecedora de produtos alimentares frescos a toda a região da capital, e a visita não ficaria completa sem passar por uma quinta. Passando o posto de turismo e a Fonte dos Pisões, chegamos às quintas da Regaleira e do Relógio, ambas monumentais e abertas a visitas, e à Quinta do Castanheiro, onde um castanheiro gigantesco justifica o nome.

Muito mais há em Sintra que justifique uma estadia prolongada; considere-se este passeio apenas como um aperitivo, uma primeira descoberta das formosuras da terra.

O Palácio da Pena

Tem um exterior de castelo de fadas e um interior de palácio de reis. Construído por D. Fernando, consorte da rainha D. Maria desde 1836, sobre as ruínas de um convento de frades que já tinha sido reconstruído por D. Manuel, dedicado a Nossa Sra. da Pena e destruído pelo terramoto de 1755. Desta sucessão de construções e reconstruções sobreviveu o antigo altar central da capela e nasceu a jóia do romantismo português, com uma mistura de estilos proveniente do interesse pelo exotismo e ecletismo que dominou as artes da época. Uma extravagância de cores e estilos, do gótico ao árabe, e também um magnífico aproveitamento do ponto mais alto da serra, que permite uma visão que se desdobra pelo parque circundante – algo entre a floresta bravia de espécies locais, onde encontramos pequenos edifícios de estilos diversos, e o cuidado jardim de espécies exóticas – até ao mar, que serve de pano de fundo à paisagem. O interior foi adaptado a palácio de Verão da família real e as divisões estão decoradas com trabalhos de estuque, murais, azulejos e profusamente recheadas com mobília, louça, pintura e outros elementos decorativos, muitos deles da China e da Índia.

O Castelo dos Mouros

Tem a dose exacta de ruína conservada e de castelo recém-descoberto, o arvoredo frondoso a garantir um cenário ibérico de Indiana Jones. D. Fernando adquiriu, conjuntamente com as do convento da Pena, as ruínas deste castelo, cuja construção data dos séculos VIII a X, e também todas as quintas e mata circundante. No século XII o castelo já era cristão, mas só foi restaurado no século XIX, por interesse de D. Fernando, que para aí gostava de se retirar para passear e pintar. No exterior existem silos para armazenar cereais, um ossário e uma igreja que data da conquista do castelo aos mouros; no interior da muralha deparamos com uma cisterna subterrânea e várias ruínas de edifícios. A parte superior, com torre de vigia e mais uma cortina de muralhas, é a alcáçova, a zona nobre e mais protegida do castelo.