Melgaço: o que fazer na terra do Alvarinho

17/08/2020

Fruto de um esforço das autoridades municipais para posicionar a vila como o “destino de Natureza mais radical de Portugal”, há hoje muita gente a visitar Melgaço para fazer rafting e outras atividades ao ar livre.

E a verdade é que não faltam atrativos naturais na região. Desde logo o Rio Minho e o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Não foi esse, no entanto, o propósito principal desta visita.

Acontece que a pequena Melgaço é detentora de um centro histórico belíssimo, com notável património arquitetónico; de museus que recuperam os tempos do contrabando ou celebram a sétima arte; de trilhos à beira-rio; de gastronomia de qualidade e de um vinho único em todo o país.

Foi, pois, à procura dessas atrações menos “radicais” que me fiz à estrada, levando na bagagem algumas ideias sobre o que fazer em Melgaço – que agora partilho. Eis o resultado desta viagem recente ao Alto Minho.

O que ver e fazer em Melgaço

Castelo de Melgaço

Marca indelével na paisagem urbana do centro histórico, com as suas ruas estreitas e as casas em pedra, o Castelo de Melgaço tem a particularidade de ser a fortificação mais setentrional de Portugal.

Do antigo castelo, mandado edificar por D. Afonso Henriques, resta apenas uma torre de menagem, de cujo topo se têm vistas soberbas sobre o centro histórico da vila e as serranias envolventes.

É lá, na torre de menagem, que foi instalado um núcleo museológico, com o propósito de divulgar o património arquitetónico, histórico e cultural de Melgaço, desde o período pré-histórico aos dias de hoje.

Por tudo isto, é um excelente local para começar a exploração de Melgaço.

Igreja Matriz de Melgaço

Também conhecida como Igreja de Santa Maria da Porta – nome que lhe foi atribuído por se encontrar próxima da porta principal do primitivo castelo -, a Igreja Matriz de Melgaço data de 1187.

Do ponto de vista arquitetónico, referência para a torre sineira e para uma peculiar representação animal – um lobo ou um leão! – no portal exterior virado para a Rua Direita.

Para quem se interessa por visitar igrejas, vale a pena conhecer o interior da Igreja Matriz de Melgaço, onde sobressai um retábulo datado de finais do século XVI (na capela lateral esquerda).

Espaço Memória e Fronteira

Despretensioso e informativo, o Espaço Memória e Fronteira de Melgaço é um dos pequenos museus mais interessantes que visitei nos últimos tempos.

O museu foi instalado no antigo edifício do matadouro municipal e aborda de forma inteligente a emigração e o contrabando, dois fenómenos sociais relevantíssimos na história contemporânea do concelho.

Da emigração ilegal às idas “a salto” para trazer produtos contrabandeados do estrangeiro, o museu é efetivamente um espaço de memórias, de pessoas e testemunhos reais, de ilegalidades cometidas em busca de uma vida melhor. Porque, mais do que reescrever a história, é importante não a deixar cair no esquecimento.

Museu do Cinema Jean-Loup Passek

Mas o que é, afinal, o Museu do Cinema Jean-Loup Passek?

Totalmente distinto é o Museu de Cinema de Melgaço, um espaço museológico que, à partida, não seria expectável encontrar numa pequena vila como Melgaço. E esse é o primeiro grande ponto a favor do museu.

Antes de mais, é uma prova do amor do cineasta francês a Portugal – e a Melgaço em particular. Ele, que dirigiu o departamento cinematográfico do Centro Georges Pompidou, em Paris, foi diretor do Festival de Cinema de La Rochelle e optou por mudar-se para Melgaço, trazendo consigo a sua coleção de milhares de objetos ligados ao cinema.

Em concreto, de lanternas mágicas a zootrópios, de cartazes a câmaras de filmar, doados por Jean-Loup Passek para a criação do museu, o espólio é, muito provavelmente, uma das mais importantes coleções mundiais de objetos dos primórdios do cinema. Fascinante!

Trilho Percursos Marginais do Rio Minho

Estando em Melgaço, não poderia deixar de fazer o Trilho Percursos Marginais do Rio Minho, um percurso linear com 5,7km que começa na vila de Melgaço e termina junto às termas de Peso, quase sempre rodeado de espaços florestais e que inclui uns agradáveis passadiços junto ao rio (a parte mais bonita do percurso).

Para além da tranquilidade do passeio, vale a pena atentar nas antigas (e raras!) pesqueiras existentes no leito do rio. Trata-se de uma velha tradição de pesca que recorre a muros em pedra construídos perpendicularmente à corrente do rio, ainda utilizadas na pesca do sável e da lampreia.

Solar do Alvarinho

Como não podia deixar de ser, qualquer visita a Melgaço não fica completa sem beber um copo (ou mais!) de Alvarinho. Seja à mesa de um dos muitos bons restaurantes da vila, seja numa prova de vinhos no Solar do Alvarinho.

Enquanto vagueava pelo centro histórico de Melgaço, decidi visitar o Solar do Alvarinho, localizado no chamado Edifício dos Três Arcos. E não dei por mal empregado o meu tempo.

O espaço é gerido pela Câmara Municipal de Melgaço e visa contribuir para a divulgação do vinho Alvarinho, bem como de artesanato local e outros produtos típicos de Melgaço.

Pela minha parte, deu para conhecer um pouco melhor a história do Alvarinho. Recomendo.

Comer, comer e comer…

Não me recordo de comer tanto como nestes dias a visitar a região de Melgaço. Não só porque há excelentes restaurantes onde almoçar ou jantar em Melgaço, mas também porque, tal como em todo o Alto Minho, as doses são sempre muitíssimo generosas.

Entre os restaurantes que experimentei, destaque para a imprescindível Tasquinha da Portela, porventura o melhor restaurante de Melgaço (fica no lugar de Portela, a 3km da vila).

Num registo mais jovem e cosmopolita, o restaurante Casa das Tapas é tão surpreendente quanto maravilhoso – um espaço com alma onde a comida é feita com o coração.

Por fim, num registo mais tradicional, a bem conhecida Adega Sabino, no coração de Melgaço, é uma opção sempre segura e consistente.

Se puder, vá aos três!

Quanto aos pratos tradicionais, referência para o cabrito, o cabrito e o cabrito. Na verdade, eu não sou apreciador do dito, mas era a sugestão que sempre faziam nos restaurantes. A carne de vaca, o bacalhau e o polvo são outros dos ingredientes mais comuns nos menus.

Isso e o vinho Alvarinho, claro está!