Algarve: Um dia (bem passado) em Tavira

16/11/2020

Não era a primeira vez que estava a visitar Tavira mas, honestamente, tinha sido há tantos, tantos anos que as minhas memórias eram praticamente nulas. Agora que lá voltei, posso garantir que Tavira é uma cidade mesmo muito interessante. Aliás, toda a região me surpreendeu pela positiva. É, seguramente, uma das zonas do litoral algarvio de que mais gosto.

Desta vez, passei por Tavira durante uma roadtrip de autocaravana em Portugal. Estando em movimento constante, acabei por não ficar muito tempo em Tavira. Mas foi o bastante para ficar encantado; a cidade aparenta ter identidade e um ambiente tranquilo, longe da confusão de outras paragens algarvias. Em suma, deu para ficar com uma bela ideia de Tavira; ver os seus principais pontos de interesse; e ainda visitar as áreas envolventes de Cacela Velha e Santa Luzia.

Neste texto, vou então recomendar o que fazer em Tavira, centrando-me em coisas que visitei a pé no centro histórico. E incluo as referidas Cacela Velha e Santa Luzia, para complementar o roteiro por Tavira num dia muito bem aproveitado.

O que ver e fazer em Tavira (o meu roteiro)

Quando cheguei a Tavira, não fazia ideia do que queria ver na cidade. O plano era simplesmente caminhar pelo centro histórico, mas não tinha um roteiro planeado. Estacionei a autocaravana junto ao mercado municipal e, acompanhado pela minha filha, fui andando ao sabor do instinto. Talvez devesse ter pesquisado um pouco antes de lá chegar – teria aproveitado ainda melhor o tempo. Mas às vezes é bom viajar sem planos. Dito isto, eis então algumas das coisas que pode fazer ou visitar em Tavira.

Caminhar pelo centro histórico

Passear pelas ruelas do centro histórico é programa suficientemente interessante para justificar uma visita à cidade de Tavira. É uma urbe relativamente tranquila e muito agradável, com uma escala confortável para explorar a pé.

Caminhe, explore, tente descobrir os recantos de Tavira ao sabor do tal instinto. Ou então use os audioguias da Câmara Municipal de Tavira com sugestões de percursos pedestres; há um que passa pelas principais atrações do centro de Tavira, entre as quais as que refiro abaixo.

Castelo de Tavira

A lenda da moura do Castelo de Tavira

A tradição local afirma que, no castelo, existe uma moura encantada que todos os anos, na noite de São João, aparece a chorar o seu destino. Ela seria a filha de Aben-Fabila, o governador mouro que, quando Tavira foi conquistada pelos cristãos, desapareceu por artes mágicas, depois de encantar a filha. Afirma-se que ele pretendia retornar para reconquistar a cidade e assim resgatar a filha, mas nunca o conseguiu.”, in Wikipedia.

O meu primeiro objetivo era chegar ao castelo medieval de Tavira. Trata-se de um pequeno castelo, bem conservado, em cujo interior existe um jardim muito agradável e bem cuidado. Quando lá cheguei, havia um músico de rua a tocar acordeão, de onde emanavam sons melodiosos que tornavam o ambiente ainda mais prazenteiro.

Subindo às muralhas, avistei boa parte da cidade de Tavira – do casario do centro histórico ao Rio Gilão. Valeu bem a pena.

Ponte Romana

De regresso à zona mais baixa da cidade, atravessei a Praça da República e fui observar um dos ícones tavirenses: a chamada Ponte Romana de Tavira.

Para além dos aspetos arquitetónicos, uma das coisas mais curiosas sobre a ponte é o facto de o rio que por ela passa mudar de nome ali mesmo. A montante, chama-se Rio Séquia; a jusante, Rio Gilão – e assim permanece até desaguar no Sítio das Quatro Águas, em plena área protegida da Ria Formosa. Desconheço os motivos exatos para tamanha excentricidade; mas a verdade é há quem conheça uma lenda que tenta explicar esse facto.

Da ponte, avistei o Jardim do Coreto, para onde me dirigi de seguida.

Jardim do Coreto

O Jardim do Coreto é o mais antigo jardim público de Tavira, e ponto de passagem quase obrigatório na ligação entre a Praça da República, junto à qual se encontra a vistosa ponte romana, e o Mercado da Ribeira.

Ao que consta, o coreto foi fabricado na cidade do Porto, em finais do século XIX, e posteriormente transportado para Tavira; e é um belo exemplo da chamada “arquitetura do ferro oitocentista”. Tem forma octogonal e é de facto muito bonito.

Na extremidade oposta do jardim, fica o renovado Mercado da Ribeira.

Mercado da Ribeira

Estive no Mercado da Ribeira apenas de passagem. O atual mercado está instalado num edifício contemporâneo do coreto que funcionou até 1999 como mercado de abastecimento da cidade. Por ignorância, imaginava um mercado renovado mas com alma, daqueles que misturam a venda de produtos hortofrutícolas com bancas de comida. Enganei-me.

Encontrei um espaço amplo e muito despido, com um palco ao fundo, e alguns restaurantes que dividiam o espaço envolvente com lojas de souvenirs. Como pretendia ir almoçar a Santa Luzia, fiquei sem saber se a comida no Mercado da Ribeira é de qualidade e a preço justo; mas manda a verdade dizer que não fiquei com vontade de experimentar. Foi, provavelmente, a única desilusão da minha passagem por Tavira.

… e ainda, perto de Tavira

Pode aproveitar a estadia em Tavira para conhecer outros lugares magníficos nas proximidades. Foi o que eu fiz – e, por sugestão de amigos que conhecem bem o Algarve, acabei por visitar Santa Luzia, para oeste, e Cacela Velha, a leste de Tavira.

Falaram-me também da praia do Barril, acessível através de uma curta viagem de comboio desde Praia d’El Rei, mas o tempo não deu para tudo. Fica no entanto a referência porque, por tudo o que me disseram, julgo que também valerá a pena incluir num roteiro em Tavira com mais tempo disponível.

A praia da ilha de Tavira é outro exemplo de um local que acabei por não visitar, não só por falta de tempo mas também de motivação. Isto porque, na altura em que estive em Tavira, a temperatura da água do mar rondava os 15 graus centígrados. Fica no entanto a sugestão: basta apanhar um barco junto ao Mercado da Ribeira e, em poucos minutos, estará na praia de Tavira. Diz quem conhece que vale bem a pena.

O mesmo se aplica ao chamado Forte do Rato, cuja visita é aparentemente muito interessante.

Eis os dois lugares próximos de Tavira que consegui visitar (os outros locais que gostava de ter visitado estão marcados a laranja no mapa abaixo).

Santa Luzia

Santa Luzia, a autodenominada “capital do polvo”, é uma pequena aldeia piscatória localizada a um par de quilómetros de Tavira. À chegada, é impossível não reparar nos barracões de madeira onde os pescadores guardam as artes de pesca tradicionais com que, ainda hoje, capturam o polvo.

Não cheguei suficientemente cedo para apreciar o bulício do porto de pesca que ganha vida de madrugada, altura em que o polvo capturado durante a noite é descarregado e vendido – incluindo aos restaurantes locais especializados nessa iguaria, a maioria dos quais encontrei espraiados ao longo da avenida marginal de Santa Luzia.

Eu próprio era para ter almoçado num desses restaurantes de Santa Luzia especializados em polvo, chamado precisamente Casa do Polvo, mas a fila de espera era tão grande que acabei por desistir. Limitei-me, pois, a passear e a apreciar a inegável beleza de Santa Luzia, com um salto a Praia d’El Rei para conhecer tão afamado destino de veraneio, beneficiando do facto de estar a viajar de autocaravana para petiscar um almoço rápido dentro da viatura.

Isto porque queria ainda visitar Cacela Velha, uma pequena povoação localizada um pouco mais afastada de Tavira.

Cacela Velha

Confesso que não conhecia Cacela Velha, mas tinham-me recomendado que por lá passasse durante o meu périplo algarvio. E assim fiz. Cacela Velha fica em frente à Ria Formosa e pertence, na verdade, ao concelho de Vila Real de Santo António (e não ao de Tavira), e é uma teia de casinhas térreas caiadas de branco que desemboca na fortaleza que lhe tomou o nome, com vistas para a Ria Formosa e a belíssima praia de Cacela Velha.

Encontrei a aldeia aprumada mas ventosa. Como tomar banho não era opção (a água estava gelada) e não tinha sequer fome para as famosas ostras do restaurante Casa da Igreja, Cacela Velha foi uma passagem relativamente rápida na roadtrip pelo sul de Portugal. Tinha sido um dia muito bem passado na região de Tavira.

A tarde ia adiantada quando decidi não regressar a Tavira para pernoitar. Ao invés, e depois de muito ponderar as alternativas, acabei por prosseguir viagem para norte, até à praia fluvial da Tapada Grande, junto à incrível Mina de São Domingos. E não me arrependi. A liberdade de viajar com transporte próprio tem destas coisas.

Como é evidente, um dia não é suficiente para conhecer Tavira. Há muitas outras coisas que eu gostaria de ter visitado – como o referido Forte do Rato e a praia da ilha de Tavira; e, mais importante, para sentir a cidade teria de ficar mais tempo. Recomendo, pois, que dedique pelo menos dois ou três dias à região de Tavira.